sábado, 31 de julho de 2010

Quem se lixa é sempre o mexilhão...


Prometi este post a alguns colegas de profissão para tentar reflectir algumas dificuldades na vida de um enfermeiro...
Lidar com vidas não é fácil, lidar com stress de doentes e respectivas famílias é ainda mais difícil, lidar com a desorganização e com políticas discutíveis complica muito...
Aquilo que devia ser uma defesa torna-se cada vez mais uma ameaça (por incongruente que possa parecer) - os registos de enfermagem, quanto mais exactos, mais mostram que estavamos devidamente atentos, mais responsabilizam. Se eu detecto uma falha e registo quebro a cadeia de erros que daí pode advir mas em seguida sou eu responsabilizada porque existia um erro (!!!!!!!)...
Hoje a classe profissional está desmoralizada, desmotivada, desmembrada... Lutas acéfalas que não levam a lado nenhum, o domínio dos "anos de casa" contra a formação contínua e a vontade de aprender, as intrigas de sacristia e os preconceitos...
O que pode existir de pior a uma organização do que ter uma pessoa que considera que fazer formação não a vai levar a lado nenhum, por isso é preferível gastar o dinheiro em outras coisas??? E o pior? Ter várias pessoas na mesma situação? É negando a importância da actualização e do enriquecimento curricular que as empresas perdem, e os profissionais também (mas infelizmente preciso de lhes dar razão)...
Quem achava que com mais enfermeiros resolveriamos todos os nossos problemas também estava redondamente enganado... Agora temos uma pressão real: se não queres fazer assim há muito quem queira... E não foi por existirem mais enfermeiros que eles passaram a fazer parte dos serviços, não se melhoraram os cuidados prestados... Temos agora um receio constante que alguém venha para o nosso lugar e tudo serve de desculpa...
Precisamos de método, de organização, de cabeças-pensantes e não de cabeças-fantoche... Precisamos de nos defender e de sermos defendidos por todos! Precisamos dar um novo rumo para que a classe deixe a frustração de lado e comece a ter objectivos e convicções que a leve a algum lado... Precisamos de deixar de nos sentirmos lixados e assumirmos o que fazemos e onde queremos ir...
Precisamos de deixar de ser o mexilhão...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Escolhas...

A vida é mesmo feita de escolhas... Tenho andado desiludida/cansada das minhas... Precisava de uma lufada de ar fresco, como se fosse Monty Python "and now for something completely different" vou agora tentar mudar um pouquinho de vida pra ver como fico... Penso regressar aos bancos da escolinha (sim, o que é a Universidade senão uma escolinha maior?) e abraçar um novo desafio... Vou mandando notícias... :)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pearl Jam

Após muitas confusões, trocas e baldrocas, lá consegui reorientar-me para ver Pearl Jam... :) Um concerto memorável, com o Eddie Vedder em grande forma... (Sim, eu estava à frente, sim ele deu-me a mão e sim ele fez um brinde á CVP quando eu estava a filmar discretamente)... :) Pena é que estando no fosso da segurança não possamos fotografar mesmo ao pé do palco e tenhamos que fazer fotos à distância, mas a experiência ficou cá dentro... :D

Optimus Alive 2010

Este ano tive oportunidade de conhecer um festival de verão por dentro das equipas de socorrismo. A CVP Pereira uma vez mais marcou presença e fez sucesso junto de quem mais precisava... :p
Uma avaliação globalmente positiva que não deixou de me trazer algumas questões:
1 - A facilidade de estar na nossa terra permite-nos marcar horas para entrar ou sair, ou seja, o nosso volutariado é facilmente negociável e escalonável...
2 - Quem é convidado não pode fazer má figura, faz todos os turnos e descansa o mínimo porque é convidado e não vai chegar ou sair sem os donos da casa...
3 - Quando mais gente faz falta, alguns elementos saem já tendo em vista as arrumações do final - que são de facto bem chatas para quem está lá há tantos dias, mas que ficam mais fáceis com mais gente e com as pessoas que não estiveram lá 3 dias das 14h30 às 05h...
4 - Fazer equipa com elementos de outras Delegações sem que nos sejam minimamente apresentados faz com que não saibamos com quem estamos a trabalhar e menosprezemos/sejamos menosprezados nas nossas competências (houve quem me perguntasse que estava à votade para ver uma TA)...
Enfim, apesar de todas estas questões foi muito interessante poder conhecer elementos de outras Delegações, conhecer a organização da CVP em eventos mediáticos e muito concorridos e, acima de tudo, foi exemplar a forma em que estava a equipa de Pereira com elementos que se conheciam de alguns serviços mensais e que se conseguiram efectivamente tornar uma equipa. Parabéns a nós!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Virar a página...

Hoje é dia de virar a nossa página... A vida é feita de escolhas e as nossas há muito que estavam feitas, só faltava coragem para as assumir... E normalmente isso é o mais difícil...
Depois de anos de encontros e desencontros, a partir de hoje a página volta a ser só minha...
Curiosamente e pela primeira vez em muitos anos, viro a página em vez de a rasgar... Quero voltar atrás muitas vezes e poder reler tudinho... :) Especialmente as partes boas (acho que não preciso saltar nada, pois não?)...
Beijo doce e... até um dia...

Além-Fronteiras

Sempre pensei trabalhar algum tempo fora do país... Sempre me imaginei a fazer vida de circo: de um lado para o outro a assentar por algum tempo e levantar acampamento quando me sentisse cansada...
Até hoje, a minha vida profissional ainda curta já conta com vários locais de trabalho porque a certa altura acho que o sítio onde estou já não constitui um desafio tão grande que me faça ficar... Detesto sentir-me confortável, detesto chegar à conclusão que a maioria das situações que me aparecem já surgiram antes e não são uma novidade...
Quando fui para a urgência acreditava que ía ficar por uns 10 anos para realmente estar à vontade, e daí ter pensado que era na urgência que ía fazer a minha vida profissional... :) Neste momento sinto esse desafio constante, todos os dias surge algo de novo, todos os dias tenho desafios diferentes, todos os dias lido com doentes diferentes (bom, uns mais que outros...)... Mas descobri dois problemas:
1 - Lidar com as famílias em stress... Poucas famílias enviam familiares e ficam em casa à espera... Menos famílias ainda enviam os familiares e ficam descansadas porque confiam nos profissionais que estão a trabalhar... A grande generalidade fica à porta ou entra para visitas rápidas e está num stress gigantesco com o qual é difícil lidar... Sendo que eu compreendo profundamente o stress - basta imaginar-me a ir com a minha mãe a uma qualquer urgência do país que não a minha para pensar que ía tentar de tudo para a acompanhar - tenho enorme dificuldade em explicar as coisas de forma a ser entendida... Ou as pessoas têm enorme dificuldade em entender-me... E, uma vez mais, eu até compreendo, porque se fosse comigo era exactamente igual... O problema é que no papel de profissional eu não posso ficar a chorar com aquele familiar, tenho que vestir a minha capa profissional e falar de forma profissional, o que quer que isso seja... Tenho que dizer que "o seu marido acabou de morrer" como se estivesse a dizer que ele foi fazer um Rx, tenho que informar que a situação é muito grave tentando transmitir alguma empatia, mas da forma mais profissional possível, por muito que me custe pensar que se fosse eu do outro lado iria ficar desesperada... E não sei resolver isto, não sei lidar com isto...
2 - Tenho um amigo (na verdade é quase como um filho, LOLOLOL) na Guiné numa missão da AMI. No final do meu curso fui também seleccionada para ir 2 meses para Cabo Verde mas no final acobardei-me e preferi ir para o Hospital - onde tinha uma hipótese de começar a carreira, porque se fosse com a AMI quem sabe quando arranjaria emprego a sério??? Mas agora...
O que me imagino a fazer no futuro? Seguramente qualquer coisa muito fora dos hospitais tradicinais... Imagino-me na área pré-hospitalar (onde não existe carreira e a breve trecho me parece que deixarão de existir enfermeiros...), imagino-me em missões de emergência para trabalhar com urgências/trauma que me desafia constantemente, imagino-me alguns meses com comunidades perdidas no mundo a fazer educação para a saúde... Mas uma vez mais lembro-me que destas vidas não faz parte uma vida estável (estou a ficar velha, não estou? eu sei que é isso que estão a pensar)... E por estável pretendo dizer que se sair agora do contrato a tempo indeterminado para ir para a AMI, para a Cruz Vermelha (da qual faço parte a pensar um pouco nesse futuro) passo a não saber se estarei a trabalhar no próximo mês, passo a deixar de pensar em comprar a minha casinha e organizar as minhas coisinhas, passo a deixar de vez de pensar em encontrar alguém para compartilhar o futuro (sendo que se não fosse enfermeira há muito tinha deixado de pensar nisso, mas hoje acho que morrer sozinha é triste demais...)... Claro que sou muito nova e as oportunidades surgem para se aproveitar...
Tudo isto para dizer que neste momento muita coisa me faz pensar no futuro... Muita coisa me faz acreditar que tudo há-de mudar... Ao mesmo tempo, muita coisa me faz desconfiar que quando surgir a oportunidade eu vou recusar por qualquer motivo que, um dia mais tarde, me fará pensar "porque é que não fui????"... E não me quero arrepender do que deixei de fazer....

Hoje...


Hoje é um daqueles dias gostosos de verão em que apetece ficar na praia até anoitecer... É nestes dias que tenho saudades de Lisboa, onde a praia estava a 15 min e havia sempre alguém sem nada que fazer pra vir experimentar uma patinadela ou fazer um raide às prateleiras do continente para levar o farnel - né lopes? aí na Guiné aposto que não tens donuts e croissants de chocolate e pão com fiambre e.... - e por isso hoje estou saudosista... :)