No hospital do ICRC todos os doentes têm direito a um
acompanhante. Claro que o direito se associa a um conjunto de deveres: os
acompanhantes são responsáveis pelos cuidados de higiene, pela alimentação do
doente, por fazer a cama, ...
Vindo de um país europeu em que uma boa parte dos acompanhantes
se divide em “não-existentes” ou em “totalmente desadequados e
não-colaborantes” a realidade do Paquistão é ilustrativa de outro mundo. Como
muitos dos nossos doentes vêm de zonas rurais (onde o emprego é essencialmente
agricultura ou pecuária de subsistência), toda a família se desloca ao hospital
e permanece à porta até ter notícias e, frequentemente, até à alta.
É surreal ver como os familiares se acomodam no chão da
enfermaria, em cobertores sem colchão ou tapete (eles têm uma sala/quarto com
melhores condições), só para poderem permanecer junto do familiar e
providenciar o que for necessário. É também interessante ver como colaboram uns
com os outros para transportar as camas para o exterior: mesmo no inverno os
dias são solarengos e muito convidativos para um arejamento - há que levar a
cama dos acamados e é vê-los a conversar uns com os outros pelos espaços livres
do hospital.
Como é evidente nem tudo é um mar de rosas… Tendas com 11
doentes + 11 acompanhantes tornam-se barulhentas e, por vezes, entramos sem
conseguir perceber quem é o doente! Nunca há verdadeira privacidade e mesmo
quando entra um doente na urgência ou nos intensivos, a família permanece
sempre a assistir (e a ocupar espaços preciosos)… Mas tudo se faz e até eu (que sou bem esquisita com o
espaço, calma e privacidade) começo a habituar-me… :)